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quarta-feira, 4 de junho de 2025 - 22:38
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Corinthians denuncia câmeras clandestinas no CT Joaquim Grava

Imagens do almoxarifado do CT eram desviadas a dispositivo externo; clube prestou queixa na 24ª DP e Polícia Civil fará perícia nesta quinta-feira

Em uma ação surpreendente de fiscalização interna, o Corinthians descobriu que as imagens do almoxarifado do CT Joaquim Grava estavam sendo transmitidas para um dispositivo externo em vez de serem gravadas no sistema de monitoramento do clube. Ao constatar essa irregularidade, a nova diretoria registrou boletim de ocorrência no 24º Distrito Policial (Ponte Rasa) e acionou a Polícia Civil, que realizará perícia técnica no local nesta quinta-feira. A ausência das gravações no sistema oficial dificulta apurar eventuais furtos ou desvios de material no clube. A falha só foi identificada após protestos de torcedores em frente ao CT, quando profissionais do clube foram averiguar as câmeras e notaram que o estoque de uniformes não estava sendo monitorado corretamente.

CT Joaquim Grava é alvo de espionagem

Descoberta e queixa à polícia

O problema veio à tona na quarta-feira (28 de maio), durante uma inspeção no sistema de segurança do CT realizada pela nova gestão de Osmar Stábile. Técnicos identificaram que duas câmeras instaladas na sala de estoque do almoxarifado estavam “desligadas” do circuito interno. Ao chamar um especialista, constatou-se que a fiação havia sido adulterada: as imagens captadas nessas câmeras eram desviadas para um gravador externo não vinculado ao sistema oficial. Em nota, fontes do clube compararam a descoberta a uma espécie de “sabotagem”. Imagens obtidas pela reportagem mostram que, além de não gravar localmente, o streaming dessas câmeras era direcionado a um aparelho particular.

Ciente da gravidade, o Corinthians prestou queixa formal na 24ª DP, na Ponte Rasa, onde o caso foi registrado como possível crime contra o patrimônio. “Um representante do clube abriu boletim de ocorrência… e o almoxarifado foi lacrado até segunda ordem”. A Polícia Civil marcou para quinta-feira (29) uma perícia no CT Joaquim Grava, com técnicos que deverão rastrear a origem do dispositivo externo e quaisquer equipamentos clandestinos instalados. A previsão é que a investigação tente esclarecer quem instalou o equipamento irregular e há quanto tempo ele operava sem detecção. A expectativa do clube é que o trabalho policial possa recuperar as imagens já captadas, caso existam gravações no dispositivo externo.

Contextualização do caso

O método de identificação da falha foi atípico e ocorreu em meio a protestos da torcida. Na última terça (27), após eliminação na Copa Sul-Americana, faixas críticas foram penduradas no portão do CT. Uma delas questionava: “Futebol sumiu… igual o dinheiro?”; outras faziam cobranças ao elenco e à gestão. Motivada por essa inquietação, a direção mandou verificar as câmeras do CT. Foi nesse momento que notaram a “ausência” de registros no estoque. Um dirigente explicou à imprensa que, em vez de um defeito técnico, havia suspeita de uma intervenção externa.

Essa descoberta alimentou versões de que o esquema poderia estar ligado a desvios anteriores. Fontes da nova administração não descartam que a adulteração das câmeras no almoxarifado tenha relação com movimentações financeiras questionáveis. Na gestão passada, o clube recebeu da fornecedora de material esportivo quase R$ 5 milhões sem documentação completa – um caso que se relacionou com contas reprovadas na última Assembleia. Interpelados, dirigentes citam abertamente a hipótese de que as imagens externas, se recuperadas, poderiam mostrar operações ou furtos não registrados.

Impactos e vulnerabilidades no monitoramento

A irregularidade no sistema de câmeras expôs uma fragilidade grave. Como noticiado, “a ausência de gravações dificulta a fiscalização de eventuais furtos e desvios de materiais” dentro do clube. Em prática, isso significa que, enquanto o mecanismo clandestino funcionou, qualquer movimentação no almoxarifado – como retirada de uniformes ou equipamentos esportivos, não ficou registrada oficialmente. O estoque foi lacrado preventivamente após a denúncia, sob risco de que mais itens sumam sem responsabilidade.

Segurança e logística do futebol profissional foram afetados imediatamente. Sem imagens confiáveis, fica impossível confirmar reembolsos ou devoluções de materiais. O Corinthians destaca que o almoxarifado é responsável principalmente por uniformes da Nike e acessórios dos jogadores; assim, a suspeita de “sabotagem” despertou temor de desvios de itens de alto valor. A interferência aconteceu em um momento de crescente pressão sobre a diretoria por causa de dívidas e cortes de gastos, circunstâncias que agravam a crise de credibilidade.

Histórico de casos semelhantes

Não se trata do primeiro episódio de espionagem interna no clube. Em fevereiro de 2008, investigação do Ministério Público revelou que o então presidente Alberto Dualib instalou “câmeras escondidas nos corredores do Parque São Jorge para vigiar o que acontecia em sua ausência”. A descoberta foi parte de um processo contra a gestão Dualib por desvios financeiros. Mais recentemente, em janeiro de 2024, ao assumir a presidência, Augusto Melo determinou uma varredura no Parque São Jorge e encontrou três equipamentos de espionagem na sala presidencial. Micropilhas e câmeras estavam embutidos em sensores de presença e até na recepção do quinto andar. O clube lamentou o ocorrido, afirmando que “não se surpreende com o fato relatado”, enquanto o ex-presidente Duilio Monteiro Alves negou qualquer conhecimento dos dispositivos.

Na mesma ocasião, a varredura alcançou parte do CT das categorias de base: uma câmera oculta foi localizada em uma sala de reuniões e estava conectada a um DVR externo. O relatório da operação, produzido pela empresa de segurança contratada pelo clube, detalhou que equipamentos haviam sido adulterados para vigilância secreta. Todo esse material foi entregue à Polícia Civil na época. Esses episódios anteriores deixaram a diretoria em alerta permanente sobre vazamentos de informação interna.

Repercussão e próximos passos

Torcedores reagiram com indignação ao caso. Além das faixas nos muros do CT, mensagens críticas foram postadas em redes sociais por sócios e conselheiros cobrando transparência. A mídia esportiva repercute o episódio como mais uma crise de gestão: sites e rádios destacam a sequência de episódios que colocam o clube sob investigação. O presidente interino Osmar Stabile, que assumiu após o impeachment de Augusto Melo, prometeu ouvir explicações de técnicos e atletas. Em sua primeira coletiva, Stabile alertou para uma “situação financeira delicada” no clube e afirmou que pedirá uma trégua política interna para superar a crise.

Nesta quinta-feira, o presidente Osmar Stabile visitou o CT Joaquim Grava para conversar com o elenco e a comissão técnica antes do retorno aos treinos. O Corinthians volta a jogar no domingo (1º) contra o Vitória, na Neo Química Arena. A direção promete acompanhar de perto a investigação policial e reforça que não haverá clima de sombra durante a preparação para os próximos jogos. Mesmo assim, a descoberta das câmeras clandestinas aumenta a pressão sobre a comissão técnica e a gestão interina, que agora precisa demonstrar eficiência na resolução do problema e reconstruir a confiança de jogadores e torcedores.

A gestão do presidente afastado Agusto Melo afirmou em nota: “Em nenhum momento a Nike fez denúncia sobre materiais esportivos que são estocados no CT Dr. Joaquim Grava. O que aconteceu recentemente foram notas fiscais de uniformes do futebol profissional que estavam lançadas apenas no sistema contábil do Clube, tanto que as mesmas constam no balanço de 2024 entregues aos órgãos fiscalizadores do Sport Club Corinthians Paulista. As câmeras que estão dizendo que foram localizadas no local, não tem relação alguma com a gestão do presidente Augusto Melo”

Corinthianista
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Editor chefe do Corinthianistas.
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